terça-feira, maio 01, 2007

Fragmentos do Japão

Os japoneses chamam-lhe Fuji-san, que quer dizer monte Fuji e não senhor Fuji. Ver o monte Fuji pela primeira vez ao vivo provoca sempre alguma surpresa e emoção. Com mais de 3700 metros e sem mais nenhuma montanha por perto que lhe faça frente, avista-se a várias dezenas de quilómetros em dias limpos, dos mais diversos locais. Para alguns monte sagrado, foi também fonte inesgotável de inspiração para artistas e, na sua base, local de treino para os temíveis samurais.

Monte Fuji ou Fuji-san, como dizem os japoneses.




As portas Torii encontram-se um pouco por toda a parte no Japão, tanto no meio das cidades como em locais isolados no campo. Marcam a entrada dos santuários xintoístas e, actualmente, são construídas não só em madeira mas também em metal e betão, podendo ainda ter várias cores, normalmente o vermelho mas também a cor do material de que é feito. O xintoísmo é uma religião largamente animista e das poucas coisas realmente indígenas no Japão. De certa forma é um mistério a forma como o xintoísmo interagiu e deixou ser-se influenciado pelo budismo, ao ponto de quase todos os japoneses serem praticantes de ambas as religiões.

Porta Torii do santuário xintoísta de Katori Jingû.



Santuário xintoísta de Katori Jingû.



O respeito pela Natureza advém naturalmente da prática xintoista, aqui demonstrado próximo da entrada do santuário de Kashima.




As bicicletas são um dos meios de transporte mais utilizados pelos japoneses, havendo parques de estacionamento só para elas. A área metropolitana de Tóquio é habitada por mais de 30 milhões de pessoas, que utilizam o comboio e o metro como principais meios de deslocação, complementados pelas bicicletas de custo reduzido para percursos mais curtos. Apesar de ser uma cidade com alta densidade urbana, Tóquio preserva no seu interior jardins imensos que cobrem uma parte significativa da zona central.

Parque para bicicletas num centro comercial em Kawasaki.



Harajuku, umas zonas de Tóquio mais frequentadas por jovens no fim de semana.



Ao lado da estação de Harajuku fica o jardim de Meiji, com 175 hectares.

Apenas durante algumas semanas do ano se podem ver as cerejeiras em flor. Em certos locais, como no castelo de Odawara, encontram-se idosos sentados, desenhando estas paisagens, que eles não poderão ver muito mais vezes nas suas vidas.

Entrada do recinto do castelo de Odawara.



Castelo de Odawara.



Mais uma vista de Odawara.



Cerejeiras em flor perto do santuário de Katori Jingû.



Enoshima é uma pequena ilha junto à costa, fazendo parte da cidade de Fujisawa, à qual fica ligada através de uma ponte com 600 m de comprimento. Com um perímetro de apenas 4 km, recebe por ano cerca de 8 milhões de visitantes. Um número que tem vindo a diminuir porque os japoneses procuram cada vez mais destinos no exterior e ainda há muito poucos estrangeiros a visitar o Japão. Possui vários templos xintoístas mas apenas um budista.

Rua principal de Enoshima.



Hetsu no miya, principal santuário xintoísta da ilha.



Estátuas junto à entrada do templo Saifukuji, o único budista de Enoshima.



O polvo assado e prensado como suposta iguaria.



De início parecia massa mas uma olhar mais aproximado revelou outra coisa.



Kamakura é uma pequena cidade a 50 km a sul de Tóquio, mas que já desempenhou um papel importante na história do Japão uma vez que entre os séculos 12 e 14 o xogunato Minamoto governou o país a partir daqui. Actualmente é bastante conhecida pelos seus templos e santuários, em especial Kôtoki-in onde fica o grande Buda de bronze com mais de 13 metros de altura e cerca de 93 toneladas de peso, datando provavelmente de 1252. Originalmente a estátua encontrava-se no interior de um templo que foi devastado no final do século 15 por um tsunami. A estátua permaneceu inalterável e, desde essa altura ao ar livre. Foi também visitado o templo de Hasedera, um dos budistas mais importantes dedicados a Kannon, onde também se podem encontrar as pequenas estátuas de Jizo. Por último, foi ainda visitado o mais importante santuário de Kamakura, o Tsurugaoka Hachimangu, onde de encontram vários templos e tivemos a sorte de poder assistir a parte de uma cerimónia de casamento e avistar um magnífico grou.

Estátua de bronze de Amida Buddha, no templo de Kôtoku-in – Kamakura.



Pormenor da Estátua de Bronze.



Estátua de Kannon no templo de Hasedera.



Estátuas de Jizo.



Jardins de Hasedera.



Avenida principal de Kamakura que vai dar ao templo de Hachimangu.



Cenas de um casamento em Hachimangu.



Os sacerdotes, os noivos e os restantes convidades.



O grou é uma ave espantosa com movimentos elegantes e decididos. Não admira que tenha sido fonte de inspiração para tantas artes orientais.



Jardins de Hachimangu.



O Kyudô é considerada uma das artes mais puras do Japão. O arco longo, com mais de 2 m de comprimento e assimétrico, revela ao longo do tiro todas as instabilidades físicas e mentais do arqueiro. No Japão é praticado em larga escala, sobretudo por universitários, mas não é difícil encontrar pessoas com mais de 90 anos que ainda atiram regularmente. O Kyudô foi dado a conhecer ao ocidente por Herrigel no seu livro “Zen e a Arte do Tiro com Arco” (pela Assírio & Alvim). Ao longo de décadas o livro foi lido por milhões de ocidentais, contudo o Kyudô foi uma arte que nunca se expandiu fortemente para fora do Japão, onde não chegarão a existir cerca de 3 mil praticantes na Europa e Estados Unidos. Talvez por isso alguns dos enganos do livro ainda irão permanecer durante muito tempo.
Em Abril de 2007 realizou-se em Tóquio o primeiro seminário internacional de Kyudô, onde estiveram presentes elementos de vários países da Ásia, Oceânia, América e Europa, incluindo Portugal. Na mesma altura realizou-se um taikai (competição) comemorativo, onde se incluíram várias cerimónias e demonstrações, ainda com a presença de uma das princesas do Japão.


Dôjô de Kyudô em Kawasaki, orientado por Maki Kudo, Kyoshi.



Demonstração de tiro formal por mestres japoneses, em Chuô Dôjô, principal local de prática do Japão.



Tiro de cerimónia, pelo mestre Nobuyuki Kamogawa, Hanshi 10º Dan. Cerimónia no Budokan de Tóquio em 13 de Abril de 2007. O silêncio era tal que se ouvia o sistema de ar condicionado a funcionar.




Princesa Takamadonomiya Hisako discursando no Taikai comemorativo da fundação da Fedaração Internacional de Kyudo, em 13 de Abril de 2007. A princesa é patrona desta arte e representa a ligação à casa imperial.




Demonstração de tiro de guerra - "Koshiya Kumi Yumi".

Texto e imagens de Mário Chainho.


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terça-feira, outubro 24, 2006

Luzboa 2006

Entre 21 e 30 de Setembro de 2006 realizou-se a segunda bienal Luzboa. Na essência deste evento está um passeio pedonal de cerca de 3 km entre o Príncipe Real e o Largo de Sto. António da Sé, composto por troços contíguos de iluminação vermelha, verde e azul. Ao longo do percurso estiveram presentes exposições e instalações de autores internacionais mas expressamente concebidas para a cidade de Lisboa. Este artigo mostra um pouco do que se viu no dia 28 de Setembro, não sendo naturalmente exaustivo.

O primeiro troço vermelho estende-se desde o Príncipe Real até à Praça Luís de Camões. Já adiantados na hora, parámos em primeiro lugar no Largo Trindade Coelho, onde se encontrava um abrigo em madeira concebido por André Banha. Subindo ao mesmo e avistamos a estátua do ardina ali mesmo ao lado, tendo sido objecto de alguns ensaios fotográficos.

Imagem de Mário Chainho.


Imagem de Pedro Ramos.


Descemos rumo ao Chiado e o próximo tema a suscitar interesse foi o cenário frente ao Teatro da Trindade. Num evento como este temos sempre que nos adaptar às condições existentes, pelo que se não podemos mudar o cenário podemos, isso sim, mudar o nosso ponto de vista sobre o mesmo. Uma imagem comum iria captar as luzes em sequência frente ao teatro com algumas viaturas a destoar. As duas imagens seguintes tentam contornar isso, a primeira com um ponto de vista mais alto e restrito, a segunda utilizando o topo de um automóvel como um espelho deformado.

Imagem de António Pereira.


Imagem de Mário Chainho.


A primeira instalação do percurso verde explanava-se nas costas da estátua do Chiado. Catherine da Silva, francesa de origem portuguesa, apresentou um trabalho baseado na Calçada portuguesa, com projecções dos conhecidos motivos sobre as fachadas dos edifícios.

Imagem de Mário Chainho.


Imagem de Mário Chainho.


Continuando a descer para os Armazéns do Chiado, próximo da Bertrand a nossa atenção foi suscitada por mais uma exposição. Subimos os degraus até ao Pátio Garret e deparámos com a exposição Demopolis, do grupo português Moov. As várias tendas espalhadas, de forma aparentemente aleatória, espelham o mosaico humano que se encontra nas cidades, onde os indivíduos são pequenos microcosmos ocupando fracções do espaço cada vez mais curtas sem no entanto perderem a sua individualidade.

Imagem de António Pereira.


Imagem de Pedro Ramos.


Imagem de Pedro Ramos.


Imagem de António Pereira.


Continuando o percurso, começamos a interrogar-nos se não havia nada de diferente nos Armazéns do Chiado. Rápidas figuras percorriam as fachadas e duvidamos se seria uma sessão de cinema. Ao chegarmos mais perto percebemos serem imagens de um jardim virtual. Tratava-se da exposição Sur-Nature, do artista mexicano radicado em Paris, Miguel Chevalier.

Imagem de Mário Chainho.


Já a descer a Rua Áurea estava o grupo de Fernando César Vieira e Cynthia del Mastro (nascidos no Brasil e radicados na Alemanha) com a Parada de Luzes. Seguimos em perseguição das personagens vestidas de luz, que misturavam dança, coreografia e música.

Imagem de António Pereira.


Imagem de Pedro Sequeira.


Imagem de António Pereira.


Imagem de Pedro Ramos.


A última exposição no troço verde esteve a cargo do grupo português Extra ]muros[, com o trabalho Art gets you trough the night II, com novas projecções de luz que tentavam recriar um ambiente natural.


Imagem de Pedro Sequeira.



O início do troço azul estava um pouco oculto. Seguindo pelas Escadinhas de São Cristóvão encontramos talvez a mais original instalação de luz e som, do colectivo belga Het Pakt, chamada Fado Morgana. Usando como matéria-prima os moradores daquela zona, projectaram-se as imagens dos seus rostos de olhos fechados, enquanto se faziam ouvir as suas vozes gravadas no canto melancólico do fado.

Imagem de António Pereira.


Imagem de Mário Chainho.


Imagem de Pedro Sequeira.


Imagem de Pedro Sequeira.


Imagem de Pedro Ramos.


No Santiago Alquimista, Bruno Jamaica apresentou o seu trabalho A Gaiola do Pássaro tem Luz Artificial, baseado em fitas elásticas com um fundo de luz.


Imagem de António Pereira.


No Largo das Portas do Sol, Gerald Petit, de França, apresentou-nos o trabalho Nightshot #2, que aqui se transfigura nas cores oficiais da bienal.

Imagem de Mário Chainho.


O troço azul terminava no Largo de Sto. António da Sé. Foi um culminar em grande nível porque, provavelmente, foi aqui que se consegui obter a melhor imagem da noite, num ambiente de monumental recato “invulgarizado” pelo azul nascente.


Imagem de António Pereira.


Texto de Mário Chainho, baseado no site http://www.luzboa.com/.

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